quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

LETRAMENTO


Durante muito tempo o profissional de educação esteve diante de uma situação que, de certa forma, imprimia um desconforto: como ajudar o aluno a perceber a aplicabilidade para o que era ensinado em sala de aula.
A visão limitada do letramento não alcançava a idéia de fenômeno social, logo professor e aluno sentiam-se frustrados e pouco motivados por terem uma intimidade restrita com a prática. Aos poucos, baseando-se na necessidade de propor um novo caminho, surgiram idéias fundamentais para o desempenho do papel do professor-letrador: investigar as práticas sociais que fazem parte do cotidiano do aluno, adequando-as à sala de aula e aos conteúdos a serem trabalhados; planejar ações visando ensinar para que serve a linguagem escrita e como o aluno poderá utilizá-la; desenvolver no aluno, por intermédio da leitura, interpretação e produção de textos, habilidades de leitura e escrita que funcionem dentro da sociedade; incentivar o aluno a socializar sua escrita e idéias de forma crítica e descobridora; visualizar a linguagem como forma de interação e a escrita como fonte fundamental de inclusão; avaliar de forma individual, levando em consideração as peculiaridades e reconhecer a importância do letramento, abandonando os métodos de aprendizado repetitivo, baseados na descontextualização.
Outra fonte de equívocos é pensar em letramento e alfabetização como sendo processos sequenciais, isto é, vindo um e depois o outro, como se o letramento fosse uma espécie de preparação para a alfabetização. Com essa reflexão, percebemos que é possível encontrar pessoas que passaram pela escola, mas não são capazes de se valer da língua escrita em situações sociais que requerem habilidades mais complexas, como também podemos encontrar pessoas que nunca foram à escola, mas que têm leitura do mundo. Levando em consideração a proposta de letramento como processo de compreensão social da palavra, essas pessoas são alfabetizadas, mas não são letradas e essa condição indesejável, embora frequente, dentro da própria escola, coloca um desafio para os professores: conciliar esses dois processos, de modo a assegurar aos alunos a plena condição de uso da língua nas práticas sociais de leitura e escrita.
A possibilidade de ter um trabalho direcionado para tais práticas é, certamente, algo complicado, mas não é impossível. É necessário enfrentar as dificuldades e se dispor para novos conhecimentos, leituras, pesquisas e disponibilidade para tentar conhecer melhor o universo do aluno. É muito fácil explorar o conceito de que cada vez temos mais alunos analfabetos funcionais, o que chega a ser um desafio é, reconhecer que toda e qualquer mudança só ocorre quando as partes do processo são envolvidas de forma verdadeira. Tudo isso é possível, desde que haja uma maior abertura que venha visar a importância das atividades ligadas às experiências culturais, integração social e exercício da cidadania.

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