quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

1ª TURMA DE ESPECIALISTAS EM PROEJA DO DF

A Especialização Lato Sensu em Educação Profissional Integrada à Educação Básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) exigiu muitas leituras, debates e discussões.
Foram dois anos de estudo, dedicação e muitas renúncias... Por isso, de muitos ficaram poucos!
Eram sábados especiais, nos quais encontrava os amigos, ria muito e, por vezes, ficava insatisfeita com as muitas mudanças.
Conheci muitas pessoas... De todos os tipos... Umas mais chegadas, outras nem tanto e as que sempre eram indiferentes e, talvez, este tenha sido o grande “barato”, pois aprendi a ser mais tolerante e conviver com a diversidade no mais amplo sentido.
Os formandos de 2011 representam a primeira turma de PROEJA no Distrito Federal, mas a missão não é se tornar elite, mas sim, abrir caminho para que outros estudos sejam sugeridos e que novos temas sejam propostos.
Fazer parte desta história me fez refletir sobre tantas coisas, inclusive acerca do que é, de fato, limitação, porque não foi fácil!
Fica minha homenagem aos colegas que foram bravos e ficaram até que todas as forças fossem esgotadas, para que ao final pudessem ser reconhecidos como VENCEDORES.
Parabéns, a TODOS nós: Precursores no DF de um universo chamado PROEJA.
Odelízia Oliveira

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

XII CANTO DA PRIMAVERA


Muito mais que um evento para músicos, o Canto da Primavera – Mostra de Música de Pirenópolis chega à sua 12ª edição renovado, como um ponto de encontro de quem faz e consome música, de quem quer entrar no meio e de quem já está lá e tem histórias pra contar.
Esse ano, o tema é “A música no coração do Brasil em conexão com o mundo”, reunindo artistas goianos, brasileiros e estrangeiros para tocar e falar sobre música em Pirenópolis.
Uma das novidades desse ano é a Fábrica do Som, parceria da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel) com o Unconvention Hub, de Manchester, Inglaterra.
Artistas goianos vão ter a oportunidade de gravar uma faixa de música com todo o aparato profissional, além de participar de debates com astros consagrados. Também participam da Fábrica o Fórum dos Músicos e o Circuito Fora do Eixo.
O público do Festival vai ver shows dos mais variados estilos, da música tradicional goiana e mineira, MPB, rock, tango, eletrônica, instrumental, brega, jovem guarda e samba. Além dos headliners Demônios da Garoa, Mutantes e Ney Matogrosso, o Canto traz Lirinha, ex-líder do Cordel do Fogo Encantando, divulgando seu novo disco solo “Lira”.
Também chegam a Goiás os hermanos do Violentango, uma das bandas argentinas mais expressivas do moderno tango, com elementos do rock progressivo dos anos 60 e 70. Lafayette e Os Tremendões vêm com os maiores sucessos da Jovem Guarda. Essas e outras atrações musicais, aliadas às diversas atividades do Festival, farão da edição 2011 uma das mais plurais do Canto da Primavera.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

AS REDES SOCIAIS E A COMUNICAÇÃO


Prezados alunos,
As redes sociais estão em evidência, por isso resolvi compartilhar este vídeo retirado do site you tube.
Um abraço,
Professora Odelízia

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

PARA DESCONTRAIR E REFLETIR...


PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA BALADA

– E aí, gato, nós vai pra sua casa ou pra minha?
– O quê?! Hahaha, ufa, você quase me pegou.
– Como assim, quase te peguei?
– Falando desse jeito aí, “nós vai”. Sabe como é, a gente acaba de se conhecer… Por meio segundo eu pensei que fosse sério.
– E se fosse sério?
– Deixa pra lá, minha linda. Lá em casa tem um prosecco na geladeira esperando a gente.
– Não, vamos com calma que agora é sério mesmo. Você está sendo submetido a um teste, atenção: e se eu fosse o tipo de mulher que fala “nós vai”, “dez real”, “os livro”, isso ia fazer diferença?
– Nossa, mas é lógico, né? Tremenda gata bem vestida, maior pinta de universitária… Aliás, você é universitária?
– Não interessa o que eu sou, estou indo pegar um táxi.
– Ei, espera aí! O que é que eu fiz de errado?
– Ah, nada. Só se revelou um porco chauvinista linguístico, como tantos que existem por aí. Uma pena, tão bonitinho…
– Você só pode estar de brincadeira! Então eu sou obrigado a dormir com uma mulher que fala “nós vai” só pra mostrar que não tenho preconceito?
– Você não é obrigado a nada, querido. Nem eu, ainda bem. Cada um faz o que quiser com a sua língua, e eu lamento que as nossas tenham se encontrado neste bar.
– Mas isso é uma completa maluquice! A gente estava no maior clima bom, não faça uma coisa dessas.
– Boa noite.
– Escuta, espera, me dá uma chance. Você quer que eu peço desculpas?
– “Que eu peça desculpas”, animal! Cadê o subjuntivo?
– Hã?
– Quer ser um elitista preconceituoso, pelo menos aprende a falar direito.

(Crônica de Sérgio Rodrigues - Sobre Palavras)


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

COM A PALAVRA: MARCOS BAGNO


Prezados alunos e colegas,
Nesta oportunidade prosseguiremos com a discussão sobre Preconceito Linguístico.
Acredito que um debate só é produtivo quando temos condições de conhecer outras versões sobre o mesmo assunto, pois a partir daí é possível ter suporte para formar opinião.
O jornalista Alexandre Garcia já expôs seu ponto de vista, agora é a vez do professor Marcos Bagno fazer algumas considerações sobre o assunto em questão.
Sugiro que você caminhe pelos dois lados da estrada, daí saberá por onde deve seguir... Vai ser uma experiência, no mínimo, enriquecedora.
Vamos lá?!
Um abraço,
Professora Odelízia

A discriminação com base no modo de falar dos indivíduos é encarada com muita naturalidade na sociedade brasileira. Os “erros” de português cometidos por analfabetos, semianalfabetos, pobres e excluídos são criticados pela elite, que “disputa” quem sabe mais a nossa língua. Essa é uma das constatações do linguista e professor do Instituto de Letras (IL) da Universidade de Brasília (UnB) Marcos Bagno. Segundo o pesquisador, o conhecimento da gramática normativa tem sido usado como um instrumento de distinção e de dominação pela população culta.
“É que, de todos os instrumentos de controle e coerção social, a linguagem talvez seja o mais complexo e sutil”, afirma. “Para construir uma sociedade tolerante com as diferenças é preciso exigir que as diversidades nos comportamentos linguísticos sejam respeitadas e valorizadas”, defende.
O preconceito na língua faz com que os indivíduos se sintam humilhados ou intimidados com a possibilidade de cometer um erro de português. “Como se o fato de saber a regência ‘correta’ do verbo implicar gerasse algum tipo de vantagem, de superioridade, de senha secreta para o ingresso num círculo de privilegiados”, afirma o professor, que foi um dos convidados do seminário Universidade e Preconceitos – Discutindo e Enfrentando uma Realidade, ocorrido em setembro de 2006 na UnB.
Mas Bagno assegura que esse tal erro, que tanto aterroriza, na realidade não existe. Na sua opinião o que há são variedades do português, como aquele falado no interior pelo caipira ou aquele falado por alguém que estudou e mora na capital. O que mais importa para Bagno é o contexto de quem diz o quê, a quem, como e visando que efeito.
SALAS DE AULA – Isso não significa que a norma culta deva ser desprezada nas escolas. Muito pelo contrário. Bagno acredita que esta deve ser a base do que é ensinado na cadeira de língua portuguesa. Mas é preciso entender essa norma como sendo a falada e escrita atualmente pela população culta do país e não aquela que só existe na gramática, mas ninguém usa.
Autor de diversos livros sobre o assunto – entre os quais o famoso Preconceito linguístico: o que é, como se faz (Ed. Loyola) –, o linguista critica o ensino de algumas normas consideradas por ele já obsoletas. Para ele, os professores escolares devem se apegar menos às regras e mais a missão de ajudar os alunos a desenvolver sua capacidade de expressão e reflexão.
Entre os exemplos citados por ele está o verbo assistir. “Por mais que os professores digam que é transitivo indireto – e que por isso se liga ao complemento por meio de uma preposição – os alunos continuam falando que vão “assistir o filme” e não ao filme. O mesmo acontece com a forma “vi ele” no lugar de o vi, não considero errada”, analisa o linguista.
A língua é algo vivo em constante em processo de evolução. “O português deve ser ensinado da mesma forma que se ensina física ou biologia. Os professores sabem que muito do que eles dizem hoje pode ser reformulado ou negado amanhã”, acrescenta.
Marcos Bagno é graduado em Letras, com doutorado em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
(Texto retirado do site da Professora Stella Bortoni)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O "ADEQUADO" E O "INADEQUADO"... QUAL A SUA OPINIÃO?

Caríssimos,
Esta reportagem foi exibida no programa "Bom Dia Brasil" no dia 17/05/2011. Foi motivo de vários comentários, pois trata de um assunto que movimenta muitos estudiosos: O Preconceito Linguístico. 
Já que conteúdo do vídeo causou polêmica e dividiu opiniões, resolvi fazer a postagem para que possamos socializar ideias.
Vale conferir e refletir!
Um abraço,
Professora Odelízia




(Vídeo retirado do site You Tube)

PARA SEMPRE PABLO NERUDA



MUSEU PABLO NERUDA: UM MUNDO DE CURIOSIDADES

Pablo Neruda (1904-1973) dizia que não era um colecionador, mas um "coisista". Ele gostava de juntar objetos que estimulavam suas memórias e de organizá-los de maneiras únicas. Uma das casas onde o poeta chileno morou, que tem forma de barco e fica na localidade de Isla Negra, é um bom exemplo dessa mania: carrancas de navios decoram a entrada. No corredor, fica uma coleção de barquinhos, guardados dentro de garrafas posicionadas para que, quando vistas, provoquem a sensação de estar em alto-mar. Comprada por Neruda em 1939 e fechada após sua morte, em 1973, a casa é um museu desde 1990.

Site oficial: www.neruda.cl

Peixe para todo lado

Fascinado pelo mar, Neruda transformou o peixe na figura-símbolo de seu brasão. Em Isla Negra, ele aparece na entrada da casa, no jardim e até no telhado, onde o tradicional galo que indica a direção do vento é substituído pelo animal.

Lembrança de infância

Peças diversas faziam parte da coleção do escritor, que tinha uma sala inteira dedicada a brinquedos. Destaque para um cavalo de papel marchê em tamanho natural, que decorava uma loja em Temuco (sul do Chile) e era objeto de fascinação do poeta quando criança.

Formatos estranhos

Garrafas coloridas estão espalhadas por toda a casa. No bar, é possível ver uma extensa coleção, de vários formatos. Algumas delas parecem mãos segurando facas, veleiros e botas. Outros modelos, mais comuns, ficam no corredor que conduz ao escritório.

Palavras flutuantes

A portinhola de uma embarcação trazida pela correnteza marítima foi transformada em mesa de trabalho e posicionada em frente a uma janela com vista para o oceano Pacífico. Ali nasceram algumas obras-primas, como o livro Canto Geral (1950).

Homenagem ao pai

Além do mar, os trens seduziam o chileno, que era órfão de mãe e foi educado pelo pai, o ferroviário José Reyes Morales. No jardim, uma locomotiva gigante homenageia José. E alguns cômodos da casa se parecem com um vagão, em especial os quartos que têm portinholas pequenas e janelas gigantescas voltadas para o mar.

Estátuas vivas

Um dos aspectos mais impressionantes do acervo é a coleção de carrancas retiradas de proas de navios. Todas elas possuem nomes e estão dispostas em diversos cômodos, sendo que grande parte encontra-se na sala de visitas. O poeta dizia que, uma vez por ano, o espírito delas retornava do mar para fazer uma grande festa.

Poesia visual

Os muros de madeira que cercam a residência são cheios de frases deixadas pelos visitantes. Depois de alguns passos, a poesia continua no ar. Na entrada, uma pequena coleção reúne objetos de várias partes do mundo, incluindo um quadro que faz referência à tela Guernica, de Pablo Picasso (1881-1973).

Para a posteridade

A estrutura de madeira que sustenta a casa é talhada com frases e nomes. Logo na entrada é possível ver inscrições como "PM - 1958" ("Pablo e Matilde"; Matilde Urrutia foi a última das três esposas do escritor) ou "Construyendo la alegria" ("Construindo a alegria").

Amor pelo mar

Esta âncora fica no jardim, com vista para o oceano. Apesar de ser apaixonado pelo mar, Neruda tinha pavor de entrar em suas águas. Ele costumava dizer: "Há anos coleciono conhecimentos que não me servem muito, porque navego sobre a terra".

Coleção na entrada

Pouco antes de entrar na casa, que fica no alto de um morro, o visitante depara com uma pequena galeria de quinquilharias. A maior parte dos objetos são touros dos mais diversos tamanhos e materiais, adquiridos pelo poeta em diferentes partes do mundo.


QUE COISA É ESSA?


Queridos amigos,
Recebi este texto e achei muito interessante... Por isso, resolvi compartilhar!
Espero que gostem...
Um abraço,
Odelízia Oliveira

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

(Autor desconhecido)

O substantivo "coisa" assumiu tantos valores que cabe em quase todas as situações cotidianas.
A palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma idéia. Coisas do português.
A natureza das coisas: gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". E no Nordeste há "coisar": "Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar”.

Coisar, em Portugal, equivale ao ato sexual, lembra Josué Machado. Já as "coisas" nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio. "E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios" (Riacho Doce, José Lins do Rego). Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" também é cigarro de maconha. Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: "Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já." E, como em Olinda sempre há bloco mirim equivalente ao de gente grande, há também o Segura a Coisinha.
Na literatura, a "coisa" é coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica O Coisa em 1943. A Coisa é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu A Força das Coisas, e Michel Foucault, As Palavras e as Coisas.
Em Minas Gerais, todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!".
Devido lugar
"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (...)". A garota de Ipanema era coisa de fechar o Rio de Janeiro. "Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca." Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas. Sampa também tem dessas coisas (coisa de louco!), seja quando canta "Alguma coisa acontece no meu coração", de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa nossa).
Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim! Coisa de cinema! A Coisa virou nome de filme de Hollywood, que tinha o seu Coisa no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70. E no programa Casseta e Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira faz o personagem "Coisinha de Jesus".
Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira "coisíssima". Mas a "coisa" tem história na MPB.
No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré ("Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar"), e A Banda, de Chico Buarque ("Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor"), que acabou de ser relançada num dos CDs triplos do compositor, que a Som Livre remasterizou. Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: "Coisa linda / Coisa que eu adoro".
Cheio das coisas
As mesmas coisas, Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece, Diga-me coisas bonitas, Tem coisas que a gente não tira do coração. Todas essas coisas são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o "rei" das coisas. Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas. Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade (afinal, "são tantas coisinhas miúdas"). Já para Beth Carvalho, é de carinho e intensidade ("ô coisinha tão bonitinha do pai"). Todas as Coisas e Eu é título de CD de Gal. "Esse papo já tá qualquer coisa... Já qualquer coisa doida dentro mexe." Essa coisa doida é uma citação da música Qualquer Coisa, de Caetano, que canta também: "Alguma coisa está fora da ordem."
Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal. O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.
A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: "Agora a coisa vai." Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!
Coisa à toa
Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema Eu, Etiqueta, Drummond radicaliza: "Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente." E, no verso do poeta, "coisa" vira "cousa".
Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as coisas, para ser usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas? Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas más.
Mas, "deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida", cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda. Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: "amarás a Deus sobre todas as coisas".
Entendeu o espírito da coisa?

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

LER DEVIA SER PROIBIDO



Texto de Guiomar de Grammon


"A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verosimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incómodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna colectivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano."

In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. pp. 71-3.