terça-feira, 21 de setembro de 2010

FORMAÇÃO DE EDUCADORES




ZANETTI, Maria Aparecida. Reflexões sobre a Formação de Educadores de Jovens e Adultos em Redes de Ensino Públicas. In: MACHADO, Maria Margarida (org.). Formação de Educadores de Jovens e Adultos: II Seminário Nacional. Brasília: Secad-MEC/Unesco, 2008.

As reflexões da pedagoga Maria Aparecida Zanetti sobre a formação de educadores de jovens e adultos têm como referência os textos apresentados por Miguel Arroyo e Vera Barreto no I Seminário Nacional sobre Formação de Educadores de Jovens e Adultos, além da sua própria experiência como coordenadora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede pública estadual do Paraná, entre 2003 e 2006.
Segundo a autora, o diálogo sobre a educação de jovens e adultos em redes de ensino pode ser tenso e intenso, visto que formas curriculares flexíveis, com sugestão de maneiras organizativas diferenciadas e não padronizadas, intensificam as tensões para a manutenção da tradição organizativa e curricular instalada nas chamadas escolas regulares seriadas. Zanetti ressalta que os limites e as possibilidades de gestar novas relações pedagógicas devem considerar as especificidades dos diferentes públicos demandantes da educação.
A autora afirma que a educação de jovens e adultos enfrenta preconceitos e ignorâncias por fugir às regras da educação regular. O seu público está fora da faixa etária para a qual a oferta de educação é obrigatória e gratuita, bem como exige dos sistemas respostas organizativas diferentes para a sua incorporação aos processos de escolarização. Assim, o trabalho pedagógico em EJA deve considerar os conhecimentos adquiridos pelos estudantes nas suas histórias de vida.
Conforme Zanetti, o processo educativo em EJA deve ser dialético, considerando que educadores e educandos são sujeitos do ato de conhecimento. Esse processo é criador, crítico e demanda o exercício de uma disciplina intelectual séria, sem se realizar, porém, por meio de atos mecânicos e autoritários.
Com relação aos processos formativos de educadores de EJA, a autora diz que passam obrigatoriamente por desnaturalizar a reprovação e a evasão dos processos escolares. Na avaliação de Zanetti, esses rituais são perversos e castigam os excluídos, que devem ser considerados sujeitos de direitos.
A autora relata em seu texto que a proposta pedagógico-curricular implementada pela rede pública estadual de EJA do Paraná buscou atender as características da educação de jovens e adultos, a fim de permitir aos educandos percorrerem trajetórias de aprendizagem não padronizadas, respeitando o ritmo próprio de cada um no processo de apropriação dos saberes, bem como suas histórias de vida e seus conhecimentos. Também se buscou distribuir o tempo escolar a partir do tempo disponível do educando-trabalhador, tanto na organização diária das aulas quanto no total de dias previstos na semana.
De acordo com Zanetti, embora a proposta curricular tenha características que possibilitam o retorno e a permanência dos jovens, adultos e idosos na escola, ainda há muito o que avançar para além da ideia de disciplina e de conteúdos escolares. Segundo a autora, a forma como o conhecimento está selecionado, hierarquizado, ordenado e sequenciado no ensino regular não é a mais adequada para a EJA.
O texto ressalta que pensar um tempo curricular para a EJA, diferente do estabelecido para o ensino regular, não é considerá-lo uma formação menor e ligeira. Quando a referência para o tempo curricular e as estratégias metodológicas na EJA são aquelas vinculadas ao modelo da chamada escola regular, as conclusões sobre as escolas de EJA são, conforme Zanetti, não raro, um olhar preconceituoso.
A autora aponta dois desafios para os sistemas educacionais em relação à construção de alternativas efetivas para o público da EJA: ver suas trajetórias sócio-étnico-raciais, urbanas ou do campo, ao invés de suas trajetórias escolares incompletas a serem supridas; garantir o acesso, a permanência e o sucesso na sua continuidade da escolarização.
Outra reflexão importante levantada por Zanetti diz respeito à verdadeira formação dos educadores de EJA. Segundo a autora, para que a formação seja realmente formação, e não instrução ou treinamento, é fundamental a constituição de coletivos de educadores de EJA, com espaços e tempos garantidos para que isso ocorra diante das especificidades dessa modalidade de ensino.
Considerando que nas redes de ensino públicas é muito grande a presença de educadores atuantes no ensino regular e que na maioria dos cursos de licenciaturas não há uma abordagem da educação de jovens e adultos, a autora entende que ainda há muito a ser feito em termos de formação em EJA.
A autora do texto é professora do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná e membro do Fórum Paranaense de EJA. Suas reflexões servem de base para discussões importantes sobre a formação de educadores de jovens e adultos e sobre essa modalidade de educação.

Um comentário:

Unknown disse...

Prezada Professora,
Seu texto é muito interessante. Gostaria de estar sempre informado sobre suas publicações, pois gosto muito de ler seus escritos.
Parabéns!
Apolinário