BARRETO, Vera. Formação permanente ou continuada. In: SOARES, Leôncio (org.). Formação de Educadores de Jovens e Adultos. Belo Horizonte: Autêntica/Secad-MEC/Unesco, 2006.
O texto de Vera Barreto fala de uma perspectiva diferente da prática da formação inicial e da formação permanente no processo de formação de educadores de jovens e adultos. A autora aponta algumas aprendizagens adquiridas ao longo de sua caminhada como pedagoga, em especial no trabalho desenvolvido no Vereda – Centro de Estudos em Educação, na formação de educadores, principalmente dos que atuam na educação de jovens e adultos (EJA).
Segundo a autora, especializada em orientação educativa, a formação inicial é a primeira etapa do processo, desenvolvida em uma ou duas semanas, tempo suficiente para que os educadores se sintam capazes de enfrentar as semanas iniciais de aula e obtenham conhecimentos fundamentais para seu trabalho.
A formação permanente, que começa na segunda quinzena de trabalho, é fundamental conforme Barreto, pois é quando o educador analisa a sua prática com seus colegas, o formador e os autores de textos, processo que o ajuda na melhor compreensão do que faz e o anima na busca de formas mais adequadas e eficazes de fazer.
Para a autora, talvez a maior vantagem da formação permanente é o fato de ela acontecer com educadores que exercem seu papel em sala de aula e, portanto, enfrentam questões objetivas e reais que exigem deles respostas nem sempre fáceis. Esses educadores sentem a necessidade de melhorar seu desempenho profissional, desejo que caracteriza o primeiro elemento para um trabalho de formação, de acordo com Barreto.
No texto, a autora destaca seis aprendizagens quanto ao processo de formação de educadores:
1 – Toda formação deve visar à mudança da prática do educador. Neste ponto, Barreto ressalta que os educadores devem ser estimulados a se tornarem produtores autônomos de suas práticas, ao invés de meros executantes de receitas pedagógicas bem-sucedidas. A autora afirma que o trabalho de formação exige que o educador se reconheça como detentor de certa teoria em relação ao seu trabalho.
2 – A mudança da prática do educador só é possível quando existe uma mudança no conjunto de representações que sustentam o seu trabalho de educador. Na análise de Barreto, essa mudança teórica se inicia quando o educador percebe que a sua própria ação se apoia em uma série de representações ou teorias e as identifica, o que torna possível estimular o diálogo entre as diversas teorias e as trocas de experiências, que contribuem para a mudança da forma de agir de cada educador.
3 – Sem se tornar um processo permanente, a formação pode muito pouco. A autora considera a análise das práticas dos educadores como eixo central da formação permanente, que não pode ser substituída pela realização de eventos isolados e pontuais de formação.
4 – É equivocada a crença de que é necessário aprender antes para fazer depois. Aprendemos fazendo se pensarmos sobre o que estamos fazendo. Conforme Barreto, são nas situações de sala de aula que muitos dos conteúdos do período de formação passam a ter significado, levando os educadores a buscar soluções para elas.
5 – A metodologia usada na formação precisa necessariamente ser a mesma que está sendo proposta aos educadores. A autora sustenta essa afirmação na crença de que a experiência é muito mais significativa que a fala ouvida. Dessa constatação, surge a necessidade de manter a coerência entre a prática e as reflexões desenvolvidas.
6 – A formação permanente, que se constitui como espaço privilegiado de reflexão da ação dos educadores tendo em vista à melhoria dessa ação, é um processo exigente. Entre as exigências desse processo, a autora destaca: a) é preciso obter a cumplicidade do educador; b) é preciso contar com formadores que, além de ter competência no fazer pedagógico, sejam competentes na condução e estimulação do grupo; c) o trabalho de formação demanda tempo; d) a formação exige espaço e horário bem definidos.
O texto traz questões importantes advindas da própria experiência da autora, que devem ser consideradas em processos de formação de educadores de jovens e adultos, contribuindo para o êxito da prática pedagógica na EJA.
Um comentário:
Poucos profissionais têm esta visão sobre a EJA. Gostei bastante da forma como você abordou o assunto.
Continuarei lendo suas postagens.
Apolinário
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