quarta-feira, 14 de setembro de 2011

COM A PALAVRA: MARCOS BAGNO


Prezados alunos e colegas,
Nesta oportunidade prosseguiremos com a discussão sobre Preconceito Linguístico.
Acredito que um debate só é produtivo quando temos condições de conhecer outras versões sobre o mesmo assunto, pois a partir daí é possível ter suporte para formar opinião.
O jornalista Alexandre Garcia já expôs seu ponto de vista, agora é a vez do professor Marcos Bagno fazer algumas considerações sobre o assunto em questão.
Sugiro que você caminhe pelos dois lados da estrada, daí saberá por onde deve seguir... Vai ser uma experiência, no mínimo, enriquecedora.
Vamos lá?!
Um abraço,
Professora Odelízia

A discriminação com base no modo de falar dos indivíduos é encarada com muita naturalidade na sociedade brasileira. Os “erros” de português cometidos por analfabetos, semianalfabetos, pobres e excluídos são criticados pela elite, que “disputa” quem sabe mais a nossa língua. Essa é uma das constatações do linguista e professor do Instituto de Letras (IL) da Universidade de Brasília (UnB) Marcos Bagno. Segundo o pesquisador, o conhecimento da gramática normativa tem sido usado como um instrumento de distinção e de dominação pela população culta.
“É que, de todos os instrumentos de controle e coerção social, a linguagem talvez seja o mais complexo e sutil”, afirma. “Para construir uma sociedade tolerante com as diferenças é preciso exigir que as diversidades nos comportamentos linguísticos sejam respeitadas e valorizadas”, defende.
O preconceito na língua faz com que os indivíduos se sintam humilhados ou intimidados com a possibilidade de cometer um erro de português. “Como se o fato de saber a regência ‘correta’ do verbo implicar gerasse algum tipo de vantagem, de superioridade, de senha secreta para o ingresso num círculo de privilegiados”, afirma o professor, que foi um dos convidados do seminário Universidade e Preconceitos – Discutindo e Enfrentando uma Realidade, ocorrido em setembro de 2006 na UnB.
Mas Bagno assegura que esse tal erro, que tanto aterroriza, na realidade não existe. Na sua opinião o que há são variedades do português, como aquele falado no interior pelo caipira ou aquele falado por alguém que estudou e mora na capital. O que mais importa para Bagno é o contexto de quem diz o quê, a quem, como e visando que efeito.
SALAS DE AULA – Isso não significa que a norma culta deva ser desprezada nas escolas. Muito pelo contrário. Bagno acredita que esta deve ser a base do que é ensinado na cadeira de língua portuguesa. Mas é preciso entender essa norma como sendo a falada e escrita atualmente pela população culta do país e não aquela que só existe na gramática, mas ninguém usa.
Autor de diversos livros sobre o assunto – entre os quais o famoso Preconceito linguístico: o que é, como se faz (Ed. Loyola) –, o linguista critica o ensino de algumas normas consideradas por ele já obsoletas. Para ele, os professores escolares devem se apegar menos às regras e mais a missão de ajudar os alunos a desenvolver sua capacidade de expressão e reflexão.
Entre os exemplos citados por ele está o verbo assistir. “Por mais que os professores digam que é transitivo indireto – e que por isso se liga ao complemento por meio de uma preposição – os alunos continuam falando que vão “assistir o filme” e não ao filme. O mesmo acontece com a forma “vi ele” no lugar de o vi, não considero errada”, analisa o linguista.
A língua é algo vivo em constante em processo de evolução. “O português deve ser ensinado da mesma forma que se ensina física ou biologia. Os professores sabem que muito do que eles dizem hoje pode ser reformulado ou negado amanhã”, acrescenta.
Marcos Bagno é graduado em Letras, com doutorado em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
(Texto retirado do site da Professora Stella Bortoni)

Um comentário:

Tiba 4P disse...

Este assunto requer muita ateção e o autor tem bons textos sobre.

Parabéns Professora Odelízia